Não sei a partir de quando os nossos „usos e costumes‟ adotou o termo “Templo” para denominar os locais das práticas ritualísticas maçônicas. Com o tempo, tal prática desdobrou-se para “Templo Sagrado” e se afastou ainda mais do simbolismo inicial das profanas Tabernas, local onde os maçons operativos reuniam-se para troca de conhecimentos, discussões sobre ajuda às suas famílias (mútua) e um ágape fraterno. Com certeza os maçons operativos avocavam a proteção de Deus em suas reuniões – lembremos que na Europa da época era perigoso negar a influência da religião –, mas daí a considerar aquele ambiente como sagrado... Com o advento da maçonaria especulativa, que pouco a pouco se tornará humanística e passará a referir-se à construção de um novo homem utilizando como analogia simbólica a construção do Templo de Salomão, a ideia de “Templo Sagrado” apresenta-se como paradoxal, uma vez que simbolicamente “o Templo de Salomão está em construção”, portanto inacabado e ainda não consagrado. Os maçons estão construindo a obra. Em alguns ritos, eles trabalham dentro do Templo inacabado com diversos adornos já colocados em seus lugares, como os altares, corda, colunas etc., mas a sessão litúrgica será mais bem compreendida como uma “etapa da obra”; o limite de concessão simbólica que me permito é o entendimento de que o andamento da obra está sendo supervisionado pelo Venerável Mestre, que representa a Sabedoria, e nos remete à figura de Salomão. E olhe lá. Não podemos perder de vista que o „templo‟ a ser construído é o templo interior do homem. As edificações, por mais bonitas e imponentes que se apresentem, são somente prédios sem qualquer caráter religioso. O ritual de „sagração‟ das Lojas é um ato de puro simbolismo maçônico para designar que aquele local, de certa forma, esta separado do mundo não maçom („profano‟), mas, com certeza, esse ritual não lhes atribui qualquer condição de locais para práticas religiosas, tais como: “Casa de Milagres ou de Orações”, “locais de oferendas ou curas” etc. muito menos de exigência de locais de comportamento beato. Para evitar tais equívocos, sugiro que resgatemos os conceitos de “Lojas” e “Oficinas”. Outra correção que me cabe colocar a prumo é a confusão que se faz entre os conceitos de Grande Arquiteto do Universo (GADU) – e de Deus. Insisto em afirmar que o Grande Arquiteto do Universo não é o Deus DAS religiões; mas, sim, é Deus NAS religiões. A diferença é sutil, mas essencial. O Deus do maçom é o próprio Deus da religião por ele professada. Os maçons têm um respeito mútuo pelo Grande Arquiteto do Universo enquanto Ele segue sendo Deus em suas respectivas religiões. Não é missão da maçonaria, tratar de unir credos religiosos diferentes; não existe, portanto, um Deus maçônico único. O conceito de Grande Arquiteto do Universo, na maçonaria, não privilegia nenhuma concepção de Deus em particular. Na maçonaria a crença no Grande Arquiteto do Universo é uma realidade filosófica, e não dogmática, traduz uma ideia de entidade dinâmica, um foco social que evolui enquanto se mescla a moralidade e as necessidades da época, moldando e guiando o maçom em seu processo evolutivo de construção de um novo homem.
É preciso entender a diferença entre os conceitos de “Arquiteto” – aquele que constrói, edifica, ergue uma construção utilizando na obra materiais pré-existentes –, e de “Deus (das religiões)” – o creador de tudo, isto é,
aquele que faz surgir tudo a partir do nada. Nesse contexto, a maçonaria pretende construir um novo homem, retificado moralmente, a partir de um homem bruto existente, portanto, essa transformação deve ser entendida apenas como uma obra de arquitetura moral, sem qualquer caráter religioso. Se alguém entender o conceito de Grande Arquiteto do Universo como "a energia gerada pelo Big Bang que iniciou o processo evolucionista na Terra", tal pensamento, sob a ótica da maçonaria humanista, não deverá ser considerado uma heresia. Outro assunto fora de prumo, motivo de discussão entre os irmãos, é o conceito de „postura‟. Quantos aborrecimentos poderiam ser evitados pelo simples fato de se ter consagrado como correto um irmão, atropelando a ritualística, chamar a atenção de outro, com veemência – principalmente de „aprendiz‟ – para que se sente „em posição receptiva‟: erecto, as mãos sobre as coxas etc. para não quebrar a „egrégora‟. Se um irmão, em um momento de descuido, é flagrado „cruzando as pernas‟ ou „com os braços às costas das cadeiras laterais‟..., pronto, a TOLERÂNCIA é mandada às favas. Afinal, quem está certo ou errado? Não é uma questão de se fazer apologia aos maçons „sem modos‟, „sem educação‟, afinal estamos numa „escola de virtudes‟ e o nosso aprendizado irá influenciar diretamente em nossa vida profana, assim sendo, desde logo se deve instruir e cobrar dos aprendizes – de forma fraternal – uma postura "adequada" a um ambiente dedicado a estudos e aprendizagem, ou seja, que lhe permita concentração e atenção, evitando-se posturas que transpareça negligência, tédio, desinteresse ou relaxamento. É uma questão de educação, nada relacionado ao caráter místico de quebra de egrégoras ou correntes espirituais. Finalizando, trago o prumo à discussão sobre a alegoria maçônica da "vida após a morte". A ressurreição sugerida pela maçonaria reside na visão filosófica da palingenesia, que segundo Schopenhauer refere-se ao renascimento sucessivo dos mesmos indivíduos, ou seja, a condição do homem em se transformar em Vida e não da forma como a apresentam os teólogos defensores do retorno do espírito ao corpo que ocupará até o juízo final. A Ressurreição, sob o ponto de vista dos dogmas religiosos, não é discutida nem preconizada nos ensinamentos maçônicos, uma vez que a maçonaria, por seu caráter ecumênico, defende a liberdade religiosa de seus adeptos e, consequentemente, respeita a crença de cada irmão e não aceita no interior de suas lojas proselitismo, nem discussões, de caráter religioso. O sistema especulativo da maçonaria esta fundamentado no conceito de evolução e progresso nessa vida, não na premissa teológica da promessa de vida eterna. Dentro desse contexto, entendo como inócuo frequentar a maçonaria com a preocupação de se postar, dentro do "Templo Sagrado", em posição receptiva – de modo a não quebrar a egrégora – „rezar‟ solicitando graças e bênçãos ao GADU, acreditando que assim procedendo estará corroborando para a obtenção de uma vida melhor após a morte. Eis um desperdício da verdadeira fé e de tempo.
Ir.´. Ubyrajara de Souza Filho, M.´. I.´. da A.´. R.´. L.´. M.´. D´Artagnan Dias Filho
Folha Maçônica Nº 270, 13 de novembro de 2010
Colaboração Ir.'. Igor Navarro
Colaboração Ir.'. Igor Navarro