sexta-feira, 6 de maio de 2011

Felicidade / pelo Ir.'. Sérgio Dias

“A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor; brilha tranqüila, depois de leve oscila, e cai como uma lágrima de amor”.

Vinícius de Moraes

Por Irmão SÉRGIO DIAS

A felicidade é uma poderosa alquimia: é um dos mais poderosos purificadores do pensamento humano, dos sentimentos, da mente, do corpo, da aura e do mundo da pessoa.

Onde andará essa tal de felicidade que todos procuram pelos quatro cantos do mundo? É cantada pelos poetas, estudiosos recomendam fórmulas mágicas, mas ninguém consegue ser feliz. Diz o Aurélio que “felicidade é qualidade ou estado de feliz; bom êxito, sucesso”. Os mais bem sucedidos na vida dizem que sem dinheiro ninguém atinge a felicidade; os bem sucedidos são aqueles que vencem na vida, que galgam os mais altos cargos, quer privados, públicos ou eclesiásticos. Em resumo, bem sucedidos são aqueles que estão sempre na frente dos outros. Ou, como dizia Ayrton Senna: o segundo colocado é o primeiro dos últimos.

            Mas existem pessoas que se tornam felizes pelo seu trabalho. Madre Tereza de Calcutá, por exemplo; sua felicidade era servir aos pobres. Dedicou toda a sua vida a ajudar os miseráveis da Índia, e vivia no seu meio. Quando lhe ofereciam homenagens com discursos, comendas e jantares, na companhia de grandes personalidades, recusava, e mandava reverter o dinheiro que seria gasto em benefício dos pobres. Albert Schweitzer foi outro exemplo que plantou sua morada nos confins da África, e dedicou sua vida aos pobres daquela região.

            No mundo atual, onde o progresso está ligado à competição, é necessário ser um vencedor para galgar os degraus do sucesso. Então, na juventude começa o sofrimento, quando o jovem precisa decidir o seu futuro. Ao invés de seguir os seus instintos, suas aptidões, ele é obrigado a escolher uma carreira que, na maioria das vezes, é diferente daquela que gostaria de seguir. Consulta as preferências do mercado de trabalho, onde há mais oferta de emprego, maior lucro financeiro. Então, estraga sua vida a fazer o que não gosta. Torna-se um infeliz a vida toda. É esta a regra geral.

            Chegamos a um estágio da vida que tudo depende do mercado de consumo. Um desejo se transforma em necessidade, seguindo a filosofia da mídia, veículo desse capitalismo desenfreado. Desde o berço, vamos nos adaptando às normas ditadas pelos veículos de comunicação. Diante disso, os bons costumes, a cultura, tudo vai por água a baixo. É preciso consumir: seja um bom consumidor e será feliz. Tudo vira bem de consumo: a saúde, a educação, a segurança... Até os relacionamentos entram nesse rol. Um casamento passa a ser um negócio e, no contrato, devem rezar cláusulas bem definidas neste particular. O amor não entra no contrato, mudando até de significado, pois fazer amor, hoje, não tem nada a ver com amor.

            Diante de tudo isso, chegamos a pensar que o homem perdeu o objetivo de viver. Basta pararmos um pouco para pensar e chegaremos à conclusão de que tudo isso que chamamos de progresso e que deveria nos trazer felicidade está nos levando para o fim. Em troca desse progresso, estamos sacrificando o planeta que é a nossa morada. De que valerá o telefone celular num planeta deserto? A felicidade que pensamos conquistar ao comprar um carro zero quilômetro não passa de uma ilusão. A pergunta continua: onde encontrar a felicidade?

Salomão, do alto de sua sabedoria, disse: “Uma geração passa, outra vem, e a terra permanece sempre. O Sol se levanta, o Sol se põe; o vento vai para o Sul e vira para o Norte; os rios todos correm para o Mar; todas as palavras estão gastas, não se consegue mais dizê-las; o olho não se sacia do que vê; o ouvido não se enche do que ouve. Que proveito tira o homem de todos os trabalhos com que se afadiga sob o Sol? Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”.

            Mas Salomão acaba concluindo que “nada é melhor para o homem do que comer e beber e experimentar felicidade no seu trabalho”. Realmente, a maior alegria que se sente é quando trabalhamos naquilo que gostamos, pois o trabalho, entre outras coisas, tem a vantagem de diminuir os dias e prolongar a vida. Quem faz aquilo que gosta, não vê o tempo passar e se sente feliz no fim da jornada.

            Ninguém, no entanto, é feliz sem amar a Deus. Ame a si mesmo e ao seu próximo, mas não se esqueça de amar a Deus, em primeiro lugar, pois é dele que provém tudo que recebemos. Nenhuma felicidade permanente é jamais atingida exceto através da adoração a Deus, a Poderosa Presença EU SOU. Outra coisa que não devemos esquecer é que somos espírito, que neste planeta somos peregrinos e como uma sombra é nossa passagem por aqui. Quando partirmos, nada levaremos conosco, nem o corpo, pois voltará ao pó.

            “Alegra-te, ó jovem, na tua mocidade, seja feliz teu coração, nos dias de tua juventude. Anda segundo os caminhos do teu coração, conforme o que teus olhos vêem. Mas fica sabendo que por tudo isso Deus te chamará a julgamento. Afasta a tristeza do teu coração, remove de tua carne o mal, pois a juventude e a aurora da vida são vaidade” (Ecl Cap. 11, vers. 9).

            Para concluir, o poeta vem e canta seus versos: “Para que tanta ilusão, tanta vaidade, procurar uma estrela perdida? Quase sempre o que nos traz felicidade são as coisas mais simples da vida. Felicidade é uma casinha simplesinha, com gerânios em flor na janela, uma rede de malha branquinha e nós dois a sonhar dentro dela”.