terça-feira, 29 de março de 2011

Os Números do Aprendiz Maçom

Os números estão presentes na maior parte das atividades humanas. A ciência, sobre a qual se apoia o edifício da indústria, do comércio e da tecnologia, não existiria sem a presença fundamental dos números.A doutrina tradicional e o esoterismo consideram os números não só por suas propriedades lógicas, aritméticas e geométricas, mas também por seus atributos simbólicos, analógicos e metafísicos. 


A ciência dos números é a base da Gnose. Em seus aspectos gerais, este conhecimento é similar nos Vedas, no I Ching, no Tao Te King, na Cabala, nos mistérios dos santuários da Grécia e na doutrina de Pitágoras.Na Cabala, a decifração dos textos sagrados é feita através do valor numérico e esotérico atribuídos a cada letra do alfabeto hebraico. Na doutrina de Pitágoras, a ciência dos números é a ciência das forças divinas em ação no Universo e no Homem – no Macrocosmo e no Microcosmo. No domínio do absoluto não existem fronteiras entre os conceitos Qualitativo e Quantitativo mas para o Homem eles existem e são fundamentais. Por exemplo, para nós são as tonalidades de uma cor ou de um som que nos impressionam. No entanto, estes atributos podem ser objetivamente determinados através de um número – o seu comprimento de onda. A essência dos problemas com os quais se defrontaram todos os sábios de todas as épocas pode ser resumida em um conjunto de três elementos: o Zero, o Um e o Infinito. (0, 1, 00). A Cabala antecede a série de números, os Sephiroth, por uma fonte não manifesta, o Ain Soph, que os maçons designam por Grande Arquiteto do Universo.

O Zero, uma das definições da Divindade, é a fonte da existência e o Vazio Original no qual essa existência se manifesta. A palavra árabe “Sephir”, vazio, significa valor nulo. Na Itália, o Sephir transformou-se em Zéfiro e, por extensão, em Zero. É a partir do Zero, o Ser Supremo não Manifestado, que se desenvolvem em matemática os conceitos de positivo e de negativo.
Se considerarmos a relação matemática  00 x 0 = 1 (o infinito multiplicado por zero é igual a um) veremos que o 1, isto é, “o primeiro germe do ser”, é igual ao produto do zero, o nada, pelo infinito, o todo. O Nada e o Infinito são dois aspectos diferentes da mesma entidade, do mesmo Criador. O Zero ou Nada é o Ser Incriado em seu estado de inércia. O Infinito, é o Criador em seu estado dinâmico. O produto do Zero pelo Infinito é a ação de Deus sobre si mesmo, produzindo assim o Um, o Universo, que é a sua manifestação no plano real.

O movimento do primeiro átomo de vida provocou o Big-Bang. Esta explosão da unidade original criou o espaço-tempo e todas as dimensões do Universo. Kant definiu a aritmética como sendo a ciência do Tempo e a geometria como a ciência do espaço. Aqui também, temos o espaço e o tempo definidos pelos números. A Multiplicidade procedeu da divisão da Unidade. Metafisicamente considera-se os números como sendo o resultado da divisão do Um. O movimento do Um para o Múltiplo significa o afastamento da Divindade, isto é, a involução. O movimento do Múltiplo para o Um significa a evolução espiritual, a espiritualização da matéria.
No triângulo, símbolo maçonico por excelência, os vértices são constituídos por um ponto e os lados opostos são constituídos por uma infinidade de pontos. Simbolicamente, a evolução espiritual ocorre quando caminhamos sobre um dos lados em direção a um dos vértices do triângulo. Simbolizado também por um ponto no centro de um círculo, o Um concentra em si todas as possibilidades que existiam no zero – o círculo sem o centro.
O Universo procede do Zero. O Um se deduz do Zero através do Infinito. O Zero e o Um constituem a primeira díade. O sistema binário, ou analógico, redescoberto pelo matemático Leibnitz, formado pelo zero e pelo um, é hoje a linguagem universal dos computadores digitais. O movimento do Um deu origem à polaridade. Dois é o primeiro esboço do ritmo e o único número par que também é primo (número primo é o que só é divisível por ele mesmo ou pela unidade). Todos os números são múltiplos de Um,  mas todos eles também podem ser expressos pela soma das potências de dois. Esotericamente, a Díade é o símbolo da instabilidade e da mudança. Com a Díade surge a diferenciação, os antagonismos e a dialética. Segundo Pitágoras, a Díade é a origem das desigualdades e, como consequência, do mal. O número dois é par e, como todos os números pares, é também considerado um número terrestre, lunar e feminino. Em oposição, os números ímpares são considerados divinos, solares e masculinos.

Para se tornar ativa, a Unidade deve multiplicar-se. Deus, sendo um ente perfeito, é superabundante e produz outros seres. Se Deus fosse só Um, estaria encerrado em si mesmo e não seria o Criador Supremo. Se fosse só Dois, produziria o antagonismo e a dissolução. Deus cria eternamente e o Universo, que enche de Suas obras, é uma Criação incessante e infinita. Tudo pode ser compreendido como Um na sua Unidade; como Dois, nos opostos; como Três, nas relações que conciliam os opostos, possibilitando o movimento que forma o equilíbrio e a harmonia. Por volta do ano 600 a. C. Lao Tse escreveu no Tao Te King: “o Tao produziu o Um, o Um produziu o Dois, o Dois produziu o Três e o Três produziu todos os seres. Assim, Deus sendo único em Si mesmo, é tríplice na concepção humana. O Um em Três e o Três em Um é a definição Universal da Divindade. O Ternário é o mais sagrado dos números místicos. Ele é a expressão do Criador.

O Três é também o número da forma, pois não existe corpo que não tenha três dimensões. Todas as religiões atribuem um tríplice aspecto à Divindade. A Cabala, por exemplo, representa Deus por um triângulo. No Sânscrito, Deus é representado pelas três letras A-U-M. A palavra SAM significa Um em Sânscrito e Três em Chinês. A letra hebraica Aleph tem valor numérico Um e valor esotérico Três. Os três pontos maçonicos e o triângulo Rosa-Cruz tiveram a sua origem nessa cosmogonia numeral. O Três encerra a primeira série de números primos ( l,2,3 ). Esta série tem a propriedade única, na qual a sua soma é igual ao seu produto: 1 + 2 + 3  = 1 x 2 x 3 = 6.

Em Loja, as jóias dos Oficiais ilustram o simbolismo da Lei do Ternário. O Nível do 1º Vig.: simboliza a Igualdade; o Prumo do 2º Vig.; exorta a que desçamos às profundezas de nossos corações e elevemos o pensamento às alturas do Grande Arquiteto do Universo. Aqui, parece haver conflito entre a horizontal igualitária do Nível e a vertical hierárquica do Prumo. No entanto, tudo se concilia pela ação do Esquadro que decora a jóia do Venerável Mestre. O Esquadro, dirigindo a ação do Nível e do Prumo, é o instrumento que o Venerável Mestre utiliza com sabedoria, equilíbrio e prudência, orientando a formação e o aperfeiçoamento dos Irmãos, visando o seu crescimento moral e espiritual. 

Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2000
Ir.'. Antonio Rocha Fadista 
BIBLIOGRAFIA
Gnose – Estudos Esotéricos -  Boris Mouravieff
Pitágoras – Uma Vida -  Peter Gorman
Tao Te King  -  Lao Tse -  Huberto Rohden
I Ching o Livro das Transmutações -  John Blofeld
A Doutrina Secreta -  H.P. Blavatsky

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