terça-feira, 28 de junho de 2011

TOT - Mitologia Egípcia

Excelso lótus de névoas diamantinas, irresistivelmente perfumado pelo mais místico delirar da poesia, que um ósculo da Via Láctea, lascivamente eivado de feitiçaria pagã, semeara nos lábios constelados do Infinito, a Lua saciava a sede de Tot com o orvalho de magia cósmica que as pétalas de seu corpo astral rociava, docemente. Seu refulgente olhar de feitiços de prata, supremo vidente dos enigmáticos oráculos do Universo, convidava-o a colher o fruto de imortalidade que abençoava o seu paraíso de luz imaculada, etereamente recamado de nascentes de sapiência ancestral, que se ofereciam, na magnificência de seu esplendor secular, a todos aqueles que se proponham a errar pela noite da vida, guiados pela estrela peregrina do conhecimento, eterna pedra filosofal, esculpida por Tot no apogeu da Criação, que convertia as trevas plúmbeas da ignorância, qual abismo onde somente o caos se manifestava, na luz transcendental, inebriante brisa de ouro, que acariciava o nascimento do jardim da humanidade, a fim de nele depositar a semente da sabedoria divina. Com efeito, Tot era proclamado, pelos fervorosos teólogos de Hermopólis, eterno imo do seu culto, como o lídimo Ourives da Criação, que, qual demiurgo universal incarnara uma íbis, a fim de chocar o ovo do mundo, tingindo de seguida na tela do universo vítreo, a excelso pintura da vida, numa obra de arte ímpar apenas concebida pela magnificência do som de sua voz.

Esta cosmogonia esculpe no ouro da sua identidade a personificação da inteligência divina, imprescindível naquele que não era senão uma deidade criadora e auto- criada, indigitando-o assim líder da Ogdóade de Hermopólis, um grupo de oito deuses, mais exactamente de quatro casais, sendo os homens facilmente reconhecidos através das suas cabeças de rã, em contraste com as suas esposas que ostentavam cabeças de serpente. Este grupo divino incarnava os pilares que haviam sustido a fundação do Universo: o casal original, isto é, aquele que Nun, personificação do oceano primordial, e Nunet, espaço celeste suspenso sob o abismo, constituíam; o casal Hehu e Hehet, ou seja, os espaços imensuráveis e impossíveis de destinguir subjacentes ao caos; o casal Keku e Keket, fruto das trevas e obscuridade; e por fim Ámon e Amaunet, símbolos do desconhecido, ou seja, dos enigmas que haviam nimbado o caos. A cidade edificada em honra destes oito deuses, actualmente denominada de El- Achmunein, era conhecida primitivamente por Khemenu, ou, na realidade, “A cidade dos oito deuses”. Todavia, a identificação vinculada entre Tot e Hermes, permitiu aos gregos apelidarem-na de Hermopólis, epíteto que se difundiu e estabeleceu através do tempo e das civilizações. Não obstante a noite pejada de obscuridade que vela o seu nascimento (determinadas fontes afirmam que Tot nasceu do crânio de Set, enquanto outras proclamam que o deus- íbis floresceu do coração do criador num momento de melancolia), indubitável é a sublimidade da chama de sabedoria divina, ateada pela suas invejáveis sagacidade e perícia, que dança na alma do arguto deus- íbis. Como soberano do fecundo reino do conhecimento, Tot sentiu ser vital a difusão dos insignes tesouros que este em sua imensidão guardava, pelo que abraçou a resolução de inventar um instrumento apto a garantir a transmissão perpétua das ciências por ele cultivadas: a escrita. Qual primeiro raio de luz bailando nos jardins dos céus, a escrita fende o luto da noite, a fim de passear pelas fragrantes rosas dos hieróglifos, de brincar na árvore da comunicação, que o Verbo e a Palavra, doce frutos dos deuses, coroavam num halo de fastígio.
A poesia, primeira manhã do mundo das almas, é cálice de Sol vertido pela taça de sua sapiência. Os livros, alimento do intelecto, seu testemunho. Em harmonia com esta ideologia, os Egípcios aludiam aos seus hieróglifos como medu- netjer, ou seja, “palavras do deus”, numa flagrante oblação ao deus- íbis. Enquanto fautor da escrita, perpétua arauta do pensamento, Tot conquistou o epíteto de neb medu- netjer, em português “O Soberano das Palavras Mágicas”. Ao integrar a elite do panteão egípcio, Tot converte-se em depositário das confidências do excelso soberano dos deuses, equivalente ao faraó na terra, garantindo assim a denominação de “Ré disse; Tot escreveu”. Não constitui, deste modo, qualquer surpresa constatar que, num ápice, Tot alcançou a preeminente posição de guardião dos arquivos divinos, emissário e escriba dos deuses. No seio da comunidade celestial, é o deus- íbis quem abraça a incumbência de permitir que a praia de luz, formada pelos cristais de luz das etéreas almas dos deuses egípcios, seja docemente banhada pelo mar da harmonia cósmica. Por conseguinte, era ele que, através da análise das inúmeras regras ditadas pelo criador na fundação do Universo, procura solucionar todas as querelas e desaires semeados na sociedade dos céus. Desta forma, buscando a aplicação das leis estabelecidas aquando da excelsa matriz da vida, os deuses reuniam-se em assembleias, marcando o início de morosos julgamentos que, com frequência, se prolongavam durante alguns anos. Escutadas e interpretadas todas as vozes envolvidas nos debates e recontros, Tot evoca a sua sapiência e sela o julgamento com uma decisão apta a implantar a paz, onde outrora o caos reinara. Resolução alguma deverá sem perpetrada sem o consentimento do escriba divino.

Tot e SétiA polivalência intelectual de Tot faculta-lhe a prerrogativa de invadir e conquistar todo o reino das ciências, pelo que ele é igualmente o deus das matemáticas, o calculador primordial e imbatível. Dominando a criatividade e a razão, o deus- íbis ousou estipular sozinho os limites dos nomos e as fronteiras das terras, concebendo assim “o ordenamento do País Duplo (Egipto) e a organização das províncias; e não hesitou em erguer todos os santuários dos deuses, dado possuir o monopólio do traçado e das plantas. Além de oferecer-lhe o título de “Arquitecto Divino”, esta liberdade tornou-o também patrono dos escribas, dos médicos, dos mágicos e dos arquitectos. Vestido pelo sumptuoso cetim de prata que o luar tece na magia do Infinito, Tot preside igualmente ao festim de feitiços e sonhos, oferecido pela noite no seu excelso palácio de abismos constelados. Incarnação da Lua, eterna maga de fantasias pagãs, Tot fendia a mortalha de trevas e pez que sufocava a essência da noite com a luz imaculada de sua adaga de feitiçaria divina. No cosmos do tempo, a intemporal estrela de um mito imortaliza com seu fulgir ofuscante o incidente que inspirou ao deus- íbis a poesia da Lua. Segundo este, Ré, cujo coração exânime, dilacerado pelos infindáveis conflitos da humanidade, naufragava nos mares da exaustão do sentir e do querer, cede à tentação de abdicar parcialmente da sua existência na terra, em prole de uma vida serena nas alturas celestes. O seu auto- exílio lança o tempo no abismo do caos, visto que doravante o astro- rei somente abençoaria a os seus súbditos terrenos durante o dia, abandonando-os, por conseguinte, às trevas e ao caos, no decorrer da sua viagem pelo mundo subterrâneo. Receando pela sorte da alma humana, Ré evoca então Tot, a fim de o indigitar seu substituto. O poderoso regente dos céus proclamou então: “ Farei com que rodeies os dois céus com tua beleza e claridade. E assim nascerá a Lua”. O seu passeio compassado pelos vales dos céus privilegiou-o com outro dos céus díspares epítetos: “Touro entre as estrelas”. Esta vertente de substituto do Sol durante a noite justificou igualmente que, durante a Época Baixa, o apelidassem de “Áton de prata”.
Tornado Senhor do Tempo e das Estrelas, Tot ou “Governante dos anos” sonhara igualmente o calendário, permitindo uma distinção entre os dias, os meses, as estações e os anos. De facto, o deus íbis cometeu a audácia de reinventar o conceito de tempo, a fim de prestar auxílio à deusa Nut, incarnação do céu, que, seu o consentimento de Ré se havia unido a Geb, personificação da terra, em lustrais núpcias divinas, fomentando assim a ira do regente supremo dos deuses, que, irado, coagiu Chu a apartar os dois amantes clandestinos, num ímpio desaire: Nut, grávida de cinco meses, jamais poderia dar à luz no espaço de tempo compreendido pelo calendário oficial. Por conseguinte, Tot, saboreando o néctar de criatividade que resvalava do fruto de sua extasiante inteligência, propôs-se a jogar aos dados com a lua, na ânsia de obter cinco dias suplementares, isto é, a septuagésima segunda parte da sua luz, que acolhessem o nascimento dos cinco filhos de Nut (Osíris, Set, Ísis, Néftis, e Horús, o Antigo). Outra flor de míticos encantamentos, vogando sem rumo na corrente do translúcido Nilo da mitologia egípcia, insinua-se em nossos sentidos, através do seu perfume de quimeras ancestrais, convidando-nos a presenciar um dos mais ferozes recontros que opôs Hórus a seu tio Set e que culminou com o dilacerar do olho esquerdo do deus falcão (personificação da Lua, em contraste com o olho direito que simbolizava o Sol). Prontamente, Tot ofereceu-lhe os seus préstimos, restaurando a visão a Hórus, ao substituir o olho dilacerado pelo amuleto uadjet, o que restituiu a harmonia ao cosmos e a magia ao deus- falcão.

Coroado pela sua beatífica sabedoria regente do generoso éden do conhecimento, Tot esculpira o seu trono na prata da Lua e o seu ceptro na jóia rara da magia suprema. Efectivamente, encontramos em Hermopólis, sua morada eterna, um tempo luxuriante, cujas criptas acolhiam papiros místicos, redigidos por aquele que constituíra o primeiro dos mágicos, venerado e imitado por todos os seus devotos discípulos. Estes, na ânsia de desbravarem a floresta proibida do conhecimento, em cujo coração pulsava a essência da magia, elevavam preces a Ré, crentes de que este conduziria Tot até eles: “Ó velho que rejuvenesceu no seu tempo, velho que se tornou criança, possas tu fazer com que Tot venha até mim, respondendo ao meu chamado”. A mitologia egípcia atribui-lhe a autoria das díspares fórmulas mágicas e textos simbólicos que o morto, ou melhor, o maé- kheru (justificado) ou maet- kheru (justificada) pronunciavam ao franquear as portas do Além e, mais exactamente, no decorrer do julgamento celestial, presidido por Osíris. Suspiros do passado confiam-nos que Tot legou também à eternidade um livro de magia e quarenta e dois volumes, que testemunhavam, sustinham e renovavam toda a magia do cosmos. Por conseguinte, prestar culto ao deus- íbis revelava-se incontornável e, na realidade, capital, para qualquer sábio. De facto, todos os escribas que ornavam de sabedoria a alma do Egipto, desde os mais humildes aprendizes, ou em egípcio, sebati, ao mais proeminente mestre (sebá) ritualizavam a sua devoção, derramando algumas gotas de tinta numa notória oblação a Tot.
Por último, Tot tece, juntamente com inúmeras outras deidades, o destino dos inumados no Além, exercendo a função de escriba divino e arauto dos deuses fúnebres. Desta forma, é ele quem introduz o defunto no recinto celestial onde será julgado, para, após a pesagem do coração deste, registar, nas tabuinhas sagradas, o veredicto proferido por Maet. Os sonhos de amor que a existência semeava no coração de Tot eram cultivados e ditados pela noite da geografia e pelas veleidades e metamorfoses da alma humana, pois em Hermopólis, o deus- íbis era proclamado esposo da sagaz Sechat, deusa dos anais e da história, que lhe ofereceu um filho de nome Hornub, enquanto que em Heliópolis Nehemetauai, isto é, “aquela que erradica o mal” era tomada por sua mulher, concebendo com ele Hornefer. Alguns devaneios da mitologia revelam que Tot desposou igualmente Maet, a etérea filha de Ré, versão suplantada por aquela que consignava a união de Tot e Tefnut, resultante da fuga do Olho de Ré para a Núbia, sob a forma da graciosa deusa. Incumbido de a restituir ao seu legítimo proprietário, o deus– íbis não terá resistido aos seus encantos, desposando-a no seu retorno ao Egipto. Porém, enquanto entidade intelectualmente superior, abençoada pela consciência da incomensurabilidade da sua sagacidade, Tot bebe da fonte da pretensão, tornando-se terrivelmente enfadonho, displicente e com uma hedionda propensão a exibir a sua inteligência através de uma retórica prolixa, escrava de uma abominável e excessiva facúndia, tal como sugere um determinado episódio do mito osírico: Na ânsia de escapar à pravidade do deus Seth, Ísis, sustendo nos braços seu filho Hórus, toma os pântanos de Chemnis, como seu refúgio de eleição. Coagida pela escassez de alimentos, a deusa abandona todas as manhãs o seu filho, a fim de assegurar a subsistência de ambos. Contudo, uma noite, ao retornar de mais uma extenuante peregrinação em busca de géneros alimentares, Ísis deparou-se com Hórus inconsciente e, desesperada, evocou Rá, que, por seu turno, não hesitou em solicitar a Tot que restituísse a saúde à criança. Após examinar cuidadosamente o enfermo, o eloquente deus- íbis lançou-se em abstractas cogitações, extravasadas sob a forma de praguejos pontuais e monólogos facundos e muito pouco apropriados. Exasperada com a sua inércia, Ísis arrebata Tot aos seus devaneios, admoestando-o severamente por “sábio ser o seu coração, mas terrivelmente demoradas as suas resoluções”.
Detalhes e vocabulário egípcio:
Tot era designado, em egípcio, por Djehuti, numa hipotética alusão a Djehut, a décima quinta província do Baixo Egipto, cuja denominação evocava o íbis, um dos seus animais sagrados.
Tal como já referido, o insigne mestre do Verbo era representado como um homem com cabeça de íbis, ornada pelo disco da Lua ou por uma coroa atef com o disco, uraeus e chifres. Em suas mãos, Tot sustém um cálamo e uma paleta de escriba. É sob esta forma que o deus- íbis regista os nomes dos faraós nas folhas da divina árvore persea, aquando da sua ascensão ao imponente trono do Egipto. Todavia, Tot surge-nos igualmente enquanto íbis ou, eventualmente, sob a forma de um babuíno.
Emissária das leis cósmicas, a magia, ciência divina personificada por Tot, é soberana do universo egípcio, instituindo um reinado de coesão espiritual que encontra na “mulher sábia” uma das suas maiores depositárias,. Tal como nos sugerem os arquivos de Set Maet, “Lugar de Verdade”, povoação alguma, independentemente do seu tamanho, se privava da protecção destas grandes magas. Habilitada a instaurar a harmonia onde o caos reinava, a exonerar as forças malignas e a preconizar o futuro, esta vidente surge-nos com frequência ajoelhada defronte de Tot, que sem hesitar a convidava a franquear a sua morada de sabedoria.
Sechat- Deusa da escrita e da medição, usualmente retractada como uma mulher envergando um vestido de pele de pantera. Em sua cabeça, insinuava-se um toucado com uma estrela de sete pontas e um arco. Juntamente com Tot, a sua versão masculina, inscrevia o nome dos faraós indigitados na sagrada árvore persea. A II Dinastia concedeu-lhe o privilégio de assistir o regente terreno no ritual de fundação de “esticar a corda”. A partir do Médio Império, a sua efígie é uma constante nos cenas dos templos dedicadas às campanhas militares, sendo representada a registar o número de cativos e despojos de guerra conquistados pelo Egipto. O Império Novo associou-a também ao festival jubilar Seb. A deusa Sechat consagrou-se igualmente regente da Casa da Vida, onde se compunham os rituais vitais para a conservação da harmonia cósmica e onde os faraós eram iniciados nos enigmas da sua função. Patrona das bibliotecas e protectora dos textos fundamentais, Sechat regista a oratória da vida com seu pincel divino, ditando nos contornos de suas palavras o destino dos faraós, tal como é demonstrado no templo de Séti I em Abidos: “A minha mão escreve o seu longo tempo de vida, a saber: do que sai da boca da Luz Divina (Ré), o meu pincel traça a eternidade; a minha tinta, o tempo; o meu tinteiro, as inúmeras festas de regeneração.”

Fonte:

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O que é um Rito?

Algo muitas vezes difícil de compreender tanto para os profanos como para os Maçons é a multiplicidade de ritos praticados pela Augusta Ordem. Os primeiros estão naturalmente desculpados uma vez que não entendem a não aplicabilidade da noção geral de rito à particularidade deste termo na Maçonaria. Os segundo são geralmente vítimas, dado pertencerem a uma obediência que trabalha num só rito (o que não é uma falta) mas que padecem de falta de instrução adequada enclausurando-os no sistema iniciático que os viu nascer sem a subsequente educação necessária.

Ora a Iniciação Maçónica é um acto libertador pois que graças ao trabalho em Loja nos leva aos confins do Universo! Então o que é um Rito?

Uma definição muito profanadir-nos-ia tratar-se de um hábito cuja origem tem pouca importância, por vezes mesmo inexplicável, que rege certas fases da vida. Isto vale para a vida familiar, a vida profissional, (gestos dos artífices), a vida espiritual....

Mais significativa é a definição que se reporta ao espiritual, que entre outros nos diz: «conjunto de cerimónias em uso nas comunidades religiosas; organização tradicional das cerimónias».Esta definição é que nos interessará uma vez que situa o Rito no espaço-tempo sagrado onde os iniciados evoluem. A Maçonariatransmite o seu conhecimento esotérico progressivamente permitindo que quem a procura tenha tempo de a digerir : faz-se por graus. Graus de conhecimento, concretamente, graus hierarquizando os Maçons na escada dos meios de aquisição que lhes é posta à disposição. Cada um destes graus comporta cerimónias de recepção, provas, discursos e instruções que só são valiosos e eficazes numa única condição: têm que se encadear entre eles numa perfeita coerência dialéctica.

Portanto o encadeamento dos graus de conhecimento de um método particular, na Maçonaria define-se como UM RITO. A ideia de coerência é fundamental, primordial, e condiciona a existência espiritual do Rito maçónico. Tomemos por exemplo o R.E.R com uma Iniciação em seis graus, onde o primeiro constitui o Beabá e o sexto o toque final. Portanto não será bom ou mesmo correcto interromper no grau de Companheiro e prosseguir a progressão num rito de coloração completamente diferente como por ex. no Memphis-Misraim sem que se tenha recomeçado ab initio toda uma educação, sob orisco de uma dissolução completa do conhecimento Iniciático adquirido.

Os meus Irmãos responder-me-ão que não é proibido mudar para um rito que parece corresponder melhor às suas necessidades espirituais precisas. Certo, mas prudência, e perseverança...... Já muito jovens maçons na sua ânsia de mudar de rito muito rapidamente se vieram a perder numa implosão radical ao nível do plano mental e espiritual.

Porquê a pluralidade dos Ritos?

Apesar de difícil confirmação julga-se que a nível mundial existiram em tempos cerca de 480 ritos maçónicos diferentes. Tal cenário fez com que eminentes movimentos maçónicos ao longo da sua história tenham tentado uniformizar os Ritos. Entre 1717 e 1823 a Grande Loja de Londres tornou-se na Grande Loja Unida de Inglaterra e esforçou-se por uniformizar a Maçonaria, impondo progressivamente ao conjunto de Lojas que trabalhavam sob a sua jurisdição um método de trabalho que reduzia os rituais às bases estritas simbólicas das profissões de construtores. De facto constata-se que este esforço deu os seus frutos na Inglaterra que pratica o rito de Emulação em cerca de 95% das suas Lojas..... Com um espírito completamente diferente e menos organizado, o Grande Oriente da França também tentou a uniformização das práticas rituais, com a finalidade de aproximar os seus membros. O que veio quase praticamente a ser conseguido....- mas só no seu seio... Com efeito, aquilo que à cerca de 150 anos atrás parecia uma federação de ritos bem definidos, do Francês Moderno ao Escocês Antigo e Aceite, do Escocês Rectificado ao Misraim de Bedarride, veio a transformar-se numa simples federação de lojas que praticam uma versão muitolivredo Rito Francês, de resto muito variável de Loja para Loja.

Portanto atente-se que a reforma inglesa que pretendeu revolucionar e uniformizar suavemente a Babilónia Maçónica, só conheceu sucessos notórios na Escócia e Irlanda, mas não conseguiu influenciar os novos países de cultura britânica que surgiram nos séculos XVII e XIX. A implantação do rito de Emulação nos países latinos e na França só conheceu um sucesso diminuto. O mesmo se veio a passar com o Grande Oriente da França relativamente aos países francófonos. Esta dicotomia reformista chegou mesmo a ter efeitos perniciosos, com os ingleses a retirar o reconhecimento aos irmãos do Grande Oriente em 1877, data em que o espírito laico que pulsava nas terras da Gália levou a Obediência a permitir a livre escolha de invocar ou não o G.A.D.U.

Então como acreditar na cacofonia ritual que mais do que unir parece levar à desunião dosfilhos da viúva ? A resposta é simples: um sueco médio e um português médio não reagem da mesma maneira perante a mesma situação. Uma população tradicional possui um florilégio de culturas, de mentalidades e de cuidados espirituais próprios. Isto parece uma argumentação pouco simplória para alguns, mas como se explica a nascença de um Rito Sueco na Suécia, e que por exemplo a França só conheça trabalho assíduo no Rito Francês? O primeiro responde com a Iniciação à demanda de uma população de forte componente luterana, a uma história rude, e por tal uma dialéctica muito cristã e muito impregnada por uma vertente calvaleiresca. O segundo faz eco a uma cultura mais latina, menos militarista, de um eclectismo mais marcado por uma ligeira atracção ao misterioso, a um clerocatólico mais propenso a uma influência moral e espiritual mais diminuta.

Mais subtilmente dito, o francês poder-se-á sentir mais atraído para os trabalhos operativos e teúrgico dos santuários herméticos de Memphis e Misraim, enquanto que o outro, o sueco,se envolvena busca da moral e estabilidade mais prosaica, preferindo abandonar-se totalmente ao duro e longo caminho da aprendizagem do Rito de York.

Apesar de tudo a Torre de Babel Maçónica é Una!

Ela é Una porque todos os povos que a construíam partilhavam os mesmos ideais em múltiplas línguas. A Maçonaria é constituída por homens diferentes perante o Eterno. Os Maçons utilizam os seus meios limitados e as suas contingências locais na busca da Palavra Única. Esta busca sublime em todos os Ritos, longe de ser desacreditada pela oposição permite o acesso de cada um a um método de regresso à Palavra Única transcendendo rivalidades e incompreensões. É por isso que um Rito Maçónico, seja ele qual for, parte sempre de uma aprendizagem alegórica da Arte Real, passa pelo desaparecimento do Respeitável Mestre Hiram e dos seus segredos, e continua-se por uma aventura que nos conduzirá a encontrar algo de ainda mais sublime. E apesar de alguns Ritos ignorarem mesmo a pessoa de Hiram, as forças postas em movimento serão sempre da mesma natureza.

Edgar Gencsi, M.'.M.'..
(R.'.L.'. Miramar, nº 36 a Or.'. de Matosinhos, G.'. L.'. R.'. P.'.)

A Pedra Bruta



1.- INTRODUÇÃO
Ao reunir subsídios para a elaboração deste trabalho sobre a PEDRA BRUTA me deparei com muitos textos bastante semelhantes entre si, a maioria discorrendo sobre a simbologia para o aprendiz maçom e o quanto ela representa. Por exemplo, a imperfeição espiritual do homem, ou ainda, o início da transferência do conhecimento maçônico.

Intuí, então, que pouco ou nada somaria reapresentar as mesmas coisas, mesmo que - talvez - em outro formato. Resolvi buscar, então, alguns dados históricos sobre a importância das pedras, em geral, na vida humana. Foi aí que me surpreendi, pois me deparei com uma infinidade de textos e citações dando conta da antigüidade e da profundidade da influência das pedras na vida humana.

A forte presença das pedras em muitas passagens bíblicas, e até mesmo a disputa pelo direito de fazer interpretações das escrituras nos estimulam a pensar no elevado sentido que tudo isto deve ter em nossas vidas.

Ao final, me permito calcar minha conclusão exatamente no discutidíssimo Gênesis 1, 26: “ Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.”
2.- PEDRAS NA VIDA HUMANA
As pedras sempre tiveram papel extremamente importante na vida humana, quer como material, quer como símbolo. Em Discursos e Práticas Alquímicas, no quarto Colóquio Internacional de Lisboa ocorrido em 2002, Carlos Dugos escreveu sobre o Simbolismo da Pedra – Correspondências Maçônico-Alquímicas. Disse que as pedras sagradas ou sacralizadas são divididas em dois gêneros, pela Tradição:
- aerólitos que, por serem oriundos do Céu, têm todas as conseqüências simbólicas dessa origem;
- pedras de Obra, que são objeto de manipulação iniciática,
No trecho intitulado ¨Estados da pedra e as nomenclaturas simbólicas¨ disse: ¨...a pedra manipulada canonicamente que, tendo no bétilo (pedra sagrada, considerada, no antigo Oriente Próximo, como a morada de um deus e, às vezes, o próprio deus ) o seu arquétipo (modelo pelo qual se faz uma obra material ou intelectual/ modelo ideal, inteligível, do qual se copiou toda coisa sensível: para Platão a idéia do bem é o arquétipo para todas as coisas boas da natureza), constitui sempre um modo de espiritualizar a substância, materializando o espírito."

Disse também que ao se tomar as tradições hermética e maçônica como dupla referência, pode-se estabelecer analogia entre a pedra alquímica, como matéria prima da Obra, e a pedra do construtor, como módulo individual do Templo. E continua:

"A fase hermética do nigredo, em que a matéria escolhida é ¨carbonizada¨, destina-se a provocar a sua morte física – putrefacio – condição primeira para um eventual renascimento in gloria. Marcado pelo luto das trevas, este momento constitui uma paixão no sentido teológico do termo. Tal dissolução destrói a escória corporal, tomando a massa um aspecto cadavérico. Não obstante, sob tal aparência, algo palpita no seu interior, indicando que a morte é um mero efeito iniciático e não uma causa absoluta.

Bem assim, a Pedra Bruta maçônica é negra e sobre ela se faz o primeiro trabalho do recém iniciado que, vindo das trevas mortais em que todo homem nasce, viu uma réstia da luz, ao terceiro ¨golpe¨. Esta pedra disforme, aparentemente inerte, guarda igualmente, em si, o germe modular de uma metamorfose.

Aprendendo de pronto os ensinamentos da Iniciação, o novo Aprendiz transmite à Pedra Bruta, por três ¨golpes¨, a luz que do mesmo modo lhe foi dada. Com isto torna dúctil a morfologia áspera do mineral, transmitindo-lhe um sopro do espírito, como prelúdio de uma fase mais adiantada da Obra.
"

O albedo (poder refletor de um corpo não luminoso que difunde a luz recebida: albedo da lua) hermético tem o seu tempo quando a escória negra da pedra calcinada apresenta, em alguns pontos, o brilho do diamante negro. É o sinal de que o cadáver se anima de uma insuspeitada vitalidade. Trata-se, então, de libertar essa emanação de todo o carvão que a envolve, de forma a que, devidamente purificada e isolada, ganhe o esplendor brilhante da neve, um fulgor de alvura e de pureza dificilmente atribuível à natureza, no seu estado nativo. Ao corpo renascido juntou-se agora uma «alma».

Essa brancura é também emblemática da Pedra Cúbica, na qual o Companheiro maçom aplicou a sua Arte purificadora. A escória que enegrecia o minério e lhe dava uma forma caótica, foi desbastada até se obter a perfeição do cubo, entidade geométrica associada à volumetria das quatro, das seis e, potencialmente, às sete direções do espaço, ou outras tantas qualidades arquétipas da realidade. Agora, a pedra é uma fonte de conhecimento e ensinamento.
"
3.- OUTRAS PEDRAS COINCIDENTES
Diz ainda o mesmo Carlos Dugos:

"A Pedra Filosofal alquímica constitui uma particularidade contida na natureza da Pedra Bruta, do mesmo modo que a Pedra de Chave maçônica representa uma especificidade incluída no contexto geral da Pedra Cúbica de Ponta. A primeira reporta-se a um sentido temporal de eternidade – a sua posse equivale, alegoricamente, a viver-se para sempre, livre de doenças e da morte. A segunda está associada à idéia do espaço infinito – sendo ela o remate cental da abóbada do Templo, o que equivale a dizer-se a abóbada celeste constitui o suporte do Universo."

"A Maçonaria conhece ainda a Pedra Angular ou de Fundamento, cornestone cuja implantação, no início de uma obra de edificação, é praticada mediante um rito próprio que, na versão profana da construção civil, foi substituído pela cerimônia do lançamento da “primeira pedra”. Tal rito está ligado à idéia de início; primeiro impulso, em tudo conforme o simbolismo de Janu, a divindade latina propiciadora de todos os começos, já que presidia a porta que mediava entre o fim de um ano e o começo de outro, numa clara alusão ao caráter solsticial desta entidade. Como se depreende, o simbolismo desta pedra remete para a matéria prima inicial da Obra, seja ela a Pedra Bruta ou a substância escolhida para a manipulação alquímica."
4.- COINCIDÊNCIAS RELIGIOSAS

O início
Em Gênesis 2, 7 está escrito: "Formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida;e o homem foi feito alma vivente."

Mais adiante, no versículo 7 do mesmo capítulo, consta: "O ouro dessa terra é bom; ali há o bdélio (goma-resina do Levante e das Índias Orientais, empregada para falsificar a mirra), e a pedra ônix."

Portanto, dentre as tantas coisas criadas, lá já estava a pedra negra, bruta, mas que, trabalhada, se transforma até em fulgurante jóia.

A pedra do testemunho de JosuéEm Josué 24, 26-28, lemos: "E Josué escreveu estas palavras no livro da lei de Deus. Então tomou uma grande pedra, e a erigiu ali debaixo do carvalho que estava junto do santuário do Senhor.

Disse Josué a todo o povo: Vede! Esta pedra nos será por testemunho. Ela ouviu todas as palavras que o Senhor nos disse. Será por testemunho contra vós, para que não mintais a vosso Deus.

Então Josué despediu o povo, cada um para a sua herança.
"

Pedra – um homem, pedras – o Templo
"A corrente religiosa cristã, a cuja tradição estão associadas praticamente todas as modalidades ocidentais da Arte Real, incluindo a Alquimia e a Maçonaria, tem na pedra uma das suas principais figuras simbólicas. De resto, o simbolismo da pedra é universal, particularmente nos povos sedentários e, sobretudo, devido à unidade da Tradição Primordial, de onde provêm todas as tradições particulares.

De um modo geral, uma pedra é tomada como símbolo de um homem, em termos individuais, enquanto o conjunto ordenado de pedras – o Templo – simboliza o coletivo da Humanidade.

Pedro foi chamado a tornar-se a pedra de fundamento da futura Igreja já que, do ponto de vista pastoral, a pedra perfeita personificada pelo sucessor de Cristo, serviria de modelo às outras pedras formadas pelo coletivo dos crentes, sendo a Igreja o próprio conjunto assim formado.

O anúncio evangélico de que o Templo derrubado seria reerguido em três dias, correspondentes à paixão, morte e ressurreição de Cristo e, bem assim, às três fases da Obra hermética e aos três tempos da mestria maçônica.

A corrente cristã apresenta, na sua origem, um claro sinal de que os elementos do princípio real e ativo são nela predominantes sobre os elementos do princípio sacerdotal e contemplativo. Jesus nasce sob a égide do Leão da Casa Real de Judá, de tradição guerreira e não no seio das tribos de vocação sacerdotal, nomeadamente a de Levi.

O PRIMADO DE PEDRO (MARCOS LIBÓRIO)
Uma das grandes razões de divergência entre católicos e protestantes diz respeito à legitimidade para a interpretação das Sagradas Escrituras. Para os seguidores da reforma, qualquer pessoa poderia ler e entender corretamente a Bíblia, sem o auxílio de ninguém senão do Espírito Santo, que guiaria cada um infalivelmente na busca do verdadeiro significado da palavra divina.

É o chamado livre exame da Bíblia, proposto pelo ex-frade Lutero.

Para os católicos, o legítimo intérprete das Escrituras (e também da Tradição) é o papa, sucessor direto de São Pedro, pois Cristo confiou a ele esse mistério. Ao papa, portanto, devem os católicos obediência em matéria de fé e moral, em função do poder divino a ele conferido.

Os protestantes, apesar de discutir as passagens discordantes da Bíblia de forma crítica, acabam tendo que reconhecer que cada um, em conexão direta com Deus, tem a sua interpretação, a sua “verdade”, originando-se, dessa forma, o fenômeno da multiplicação das seitas que se constata a partir do século XVI, e que não cessou até hoje.
"
Pedro é o mais citado pelos EvangelistasPedro é o mais proeminente dos Apóstolos, começando pelo número de vezes que seu nome é mencionado nos Evangelhos (171 vezes). Além da quantidade, é relevante destacar que seu nome é normalmente ligado às citações que denotam importância.
Cristo muda o nome de Simão para PedroOutro destaque exclusivo de Pedro é que Cristo, ao chamá-lo a uma nova e superior vocação, lhe atribui curiosamente um novo nome, que carrega o significado poderoso de, ao mesmo tempo, chefe e fundamento da nova sociedade que terá por missão espalhar os ensinamentos do Mestre pelos quatro cantos do mundo: "Este (André) encontrou primeiro seu irmão Simão, e lhe disse: Encontramos o Messias. E levou-o a Jesus. E Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro" (Pedra) (João I, 41-42).

Analisemos em primeiro lugar a mudança do nome: quantas vezes, em toda a Escritura, Deus muda o nome de alguém? Se são poucas as vezes, conclui-se que este ato é solene, dada a sua excepcionalidade, que faz concluir a gravidade daquilo que o motivou.

Ora, em toda a Sagrada Escritura Deus muda apenas três vezes o nome de homens, sempre para destacar a dignidade de uma vocação superior: primeiro, muda o nome de Abrão para Abraão, tornando-o o patriarca fiel a Deus e recompensado com a Antiga Aliança e a promessa de uma descendência pujante (Gênesis, XVII, 5-8). O segundo eleito é Jacó, a quem Deus nomeia Israel, renovando as promessas feitas ao avô em relação ao povo judeu. A mais ninguém Deus concede este privilégio, nem a reis nem a Profetas, que foram tantos e com tal santidade! No Antigo Testamento, Deus sela a Aliança com seu povo escolhendo e mudando o nome dos Patriarcas, mostrando de forma inequívoca que unge – separa - seus eleitos.

O "Tu és Petrus"
Cristo dirige-se a Pedro, após sua maravilhosa profissão de fé ("Que dizem os homens de mim" ... "que dizeis vós?" "Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo!", e confirma sua promessa: "Bem aventurado és Simão Barjona, porque não foi a carne e o sangue que a ti revelou, mas sim meu Pai que está nos céus, e eu digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado também nos céus" (Mateus, XVI, 16-19)

Nunca houve texto mais deturpado, mais recortado e refeito, na busca desesperada de alterar-lhe o sentido, que se apresenta simples. Para os protestantes, Cristo estaria falando de duas pedras. A primeira delas ("tu és pedra") não é pedra; no máximo é uma pedra menor, diferente da segunda ("sobre esta pedra"). A primeira é Pedro, a segunda, Cristo, ou a confissão de Pedro, conforme o examinador.

Ora, é impossível admitir que a Sabedoria Divina tenha se expressado de forma tão confusa, ainda mais se nos lembrarmos da mudança do nome de Pedro. Lembremos ainda que Cristo falava em aramaico, língua em que Pedro e pedra significam, ambos, Cefas. Não resta qualquer espaço para dúvidas.

Mas dirão ainda os protestantes: em várias passagens se diz que Cristo é a pedra, o fundamento! Não há dúvida. Mas só Cristo é pedra ? Vejamos o que Ele diz: “ eu sou a luz do mundo” (João, VIII, 12) e depois: “Vós sois a luz do mundo”, dirigindo-se aos apóstolos (Mateus, V, 15)

Duas luzes ? Sim. Há, portanto, luz e luz, pedra e pedra. Uma luz fonte, outra luz reflexo; uma pedra fundamento invisível, causa e fim dos homens, outra pedra fundamento visível, rocha de sustentação da Igreja indefectível e guia infalível dos homens.
5.- SÍMBOLO DO GRAU DE APRENDIZ MAÇOM

A primeira imagem com a qual o Aprendiz Maçom toma contato sintetiza os símbolos atinentes ao seu estágio e ilustra o trabalho daquele que está iniciando seu aprendizado. Trata-se da imagem de um jovem – presumivelmente um pedreiro ou escultor - olhando para um bloco de pedra bruta tendo nas mãos um malho e um cinzel. Eis aí, portanto, os quatro elementos básicos do Grau de Aprendiz Maçom: o próprio pedreiro ou escultor, o malho, o cinzel e a pedra bruta.

A PEDRA BRUTA é o símbolo do Grau de Aprendiz Maçom. Ela representa a natureza humana, ainda não trabalhada, rústica como o homem é encontrado na sociedade.

Simboliza a imperfeição espiritual do homem, independentemente de suas qualidades profissionais e de sua posição social. Representa o começo, o início de todo o ensinamento que a Maçonaria transmite a seus adeptos. Sua aparência grosseira, tal como se encontra na natureza, passa forte imagem de algo que precisa ser desbastado, lapidado, assim como o homem pode se tornar mais polido e útil.

Os Aprendizes, Profanos recém-Iniciados, trabalham a Pedra Bruta para transformá-la em Pedra Cúbica que possa, ao lado de outras pedras, ser usada na construção do edifício social, do meio de onde foi extraída. No Templo a Pedra Bruta está colocada sobre o solo, ao lado do Trono do Irmão 1º. Vigilante, simbolizando o homem físico, o homem não evoluído espiritualmente, o homem maçom recém-Iniciado. O Irmão Márcio Silva Campara, da Loja Águia de Haia n°. 214 das Grandes Lojas de Minas Gerais diz, em seu artigo Pedra Bruta II:

"Sendo o Primeiro Grau o alicerce da Filosofia Simbólica, resumindo ele toda a moral maçônica de aperfeiçoamento humano, compete ao Aprendiz Maçom o trabalho de desbastar a pedra bruta, isto é, desvencilhar-se dos defeitos e paixões, para poder concorrer à construção moral da humanidade, que é a verdadeira obra da Maçonaria. A Pedra Bruta dos Maçons simboliza essa matéria prima, natural, informe, cheia de saliências e reentrâncias, tirada das pedreiras tal e qual ali é encontrada, sem nenhum beneficiamento por parte do homem.

No período da Maçonaria Operativa, entre as várias tarefas dos Aprendizes estava o oficio de Cantaria, ou seja, o ofício de dividir, cortar, esquadrar as pedras para as construções. Porém, com a transferência da Maçonaria Operativa para a Especulativa, o primeiro grau de aprendiz foi alicerçado na filosofia simbólica. Até um passado recente costumava-se dizer que fulano de tal parecia uma pedra bruta devido a sua ignorância. A natureza desse tipo de pessoa se deve à falta de educação, visto que, nos primórdios da civilização os homens não se entendiam a não ser pela força. À medida que foram civilizados e educados, passou-se a ter entendimentos, acordos, formação de sociedades, surgindo então, homens cultos, sábios e instrutores da formação
."

Diz mais o Irmão Márcio:

"A Pedra Bruta nada mais significa que o Obreiro cheio de imperfeições, que somente alcançará o estágio de Pedra Polida quando se houver livre das paixões e dos vícios, praticando o bem a seu semelhante, desprezando o materialismo consumista dos dias de hoje, e procurando participar de uma sociedade mais justa e perfeita, através da prática da fraternidade, deixando transparecer suas virtudes de homem íntegro.

Ao término do trabalho de aperfeiçoamento moral, simbolizado pelo desbastar dessa massa informe, a que chamamos de Pedra Bruta, houverdes, pela fé e pelo esforço, conseguido transformá-la em Pedra Polida, apta à construção do edifício, podeis descansar o Malho e o Cinzel, para empunhardes outros utensílios subindo a escala da hierarquia Maçônica.

A Pedra Bruta é o material retirado da jazida, no estado da natureza até que, pela constância e trabalho do Obreiro, fique na devida forma para poder entrar na construção do Edifício Maior. Humildade, sinceridade, nobreza de caráter, espírito de fraternidade, são virtudes escondidas na Pedra Bruta e que deverão ser ressaltadas pelo verdadeiro Maçom através da compreensão, do estudo e da aplicação, pois de nada adianta dizer-se Maçom quando a ignorância e os erros são conservados na sua personalidade.
"

"A Pedra Bruta não é material inerte e informe", diz o Irmão Rubens José Nogueira, da Loja Lealdade e Luz, que continua: "mas, antes de tudo, um ativo de beleza, uma verdadeira Pedra Viva, o que traz à lembrança o pronunciamento do grande Michelangelo que, ao ser questionado como fazia para criar obras de arte tão magníficas e cheias de vida, a partir de blocos informes e frios, simplesmente respondeu: (Quando olho um bloco de mármore vejo a escultura dentro dele. Tudo o que tenho a fazer é retirar as aparas. Existe uma obra de arte que a nós foi destinado criar). Embora pareça simples, temos consciência do quão difícil é a tarefa de moldar essa pedra, segundo os ensinamentos filosóficos de nossa Ordem, pois a sua forma é determinada pela consciência individual de cada homem e suas arestas esculpidas pela ação da sociedade onde esse homem foi encontrado."
6.- CONCLUSÃO

Cabe a cada um de nós, todos os dias, em todos os momentos, lembrar que fomos criados por Deus à Sua imagem e semelhança e isto pode significar simplesmente que temos a capacidade de amar. E mais, pelo livre arbítrio tudo pode ser usado para o bem ou para o mal.

O irmão Antonio Alberto Lourenço Lucas, em seu trabalho "Deveres de um aprendiz maçom", mais precisamente no parágrafo 4 do capítulo 5, diz que um dos deveres é: "Cultivar a amizade, reunindo em círculos os que têm ideais iguais, os que têm conhecimento e fome de verdade, não se esquecendo de cultivar o caráter, sem cessar. Estimular os bons, amar os fracos e fugir dos maus – se não conseguir levá-los ao bem. Nunca odiar ninguém."

Já a Governadora do Distrito 4730 de Rotary International, em sua carta mensal de fevereiro último, repetiu duas célebres frases, que considero muito apropriadas e inspiradoras para as conclusões deste trabalho.

A primeira é de Paul Harris, fundador do Rotary International, e diz: "O amor é mais poderoso do que o ódio. Faça para o amor a metade da propaganda que foi feita para o ódio e não haverá mais guerra e conflitos." E a segunda é do Mahatma Ghandi que sacramenta: "Não existe um caminho para a Paz, a Paz é o caminho."

Então, meus Irmãos, ouso lhes dizer que não existe um caminho para a felicidade, a própria felicidade é que é o caminho para uma vida melhor. A felicidade entendida como o sentimento de quem faz as coisas com amor. Na família, que tende a responder com afeto. No trabalho, em que as realizações se tornam mais facilmente alcançáveis. No estudo, que ao invés de fardo maçante, se mostra esteira segura que conduz ao conhecimento.

E na arte, meus Irmãos ? E na arte, pergunto eu.

Na arte é que melhor se manifesta, como em nenhum outro ramo, o amor. O amor do poeta que nos sensibiliza falando do seu amor nem sempre correspondido. O amor do pintor que retrata a luz. O amor do escultor que, por vezes, só nos fica devendo o sopro da vida em suas criações, pois que tudo o mais está perfeitamente expresso em sua obra.

Portanto, a minha sugestão é de que, antes de buscar em nosso interior qualquer outro talento, vamos colocar em prática o que todos já nascemos sabendo, que é amar. Amar a quem nos concebeu. Amar a quem nos criou, Amar a quem nos educou. Amar a quem amplia os nossos conhecimentos e horizontes. Assim, estaremos também amando a nós próprios, pois que nada somos além de resultado de todas essas maravilhosas formas de amor que atuam sobre nós antes mesmo de que pudéssemos ter qualquer consciência, inclusive do próprio eu.

Desse modo vamos conseguir, como reflexo, mais amor. Amor que alimenta o nosso espírito. Amor que nos impulsiona cada vez mais para nos tornarmos pessoas melhores. E se já sabemos amar, se já agimos com essa motivação, quem sabe só não esteja faltando expressar melhor o nosso amor.

Fica aqui, portanto, a atrevida sugestão para que com maior freqüência e prodigalidade se confesse esse amor, abusando do risco de enquadramento na pieguice. Mas, se fizermos felizes a quem amamos, quem se importa em parecer piegas a quaisquer outros olhos ?

Quem sabe não estejamos, com isto, motivando mais pessoas a se libertarem de um engessamento que apenas tolhe suas próprias confissões de amor.

Amemos, meus Irmãos !!!

E sejamos felizes !!!



Ir.’. Pedro Celso Leandro
16/04/2008 - A.’. M.’. , ARLS Bondade e Justiça nº. 84 Curitiba, Brasil
7.- BIBLIOGRAFIA

1.- Bíblia Sagrada - Tradução de João Ferreira de Almeida
2.- As pedras na vida humana de Ailton Leite
3.- Discursos e práticas alquímicas, Colóquio Internacional – Lisboa 2002 – Simbolismo da Pedra – Correspondências maçônico-alquímicas de Carlos Dugos
4.- O primado de Pedro de Marcos Libório
5.- O aprendiz ou a pedra bruta de Warner Luiz de Oliveira
6.- Fragmentos da pedra bruta de José Castellani
7.- Pedra Bruta II de Márcio Silva Campara
8.- Mistérios do número 6 de José Laércio do Egito
9.- Prancha Pedra Bruta de Carlos Roberto Pittoli (publicada no Portal Maçônico)
10.- Prancha Pedra Bruta de Carlos Alberto Pereira (publicada no Portal Maçônico)
11.- O bem, o mal e a lição da pedra bruta de Carlos Raposo (Portal IPPB-Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas)
12.- O desbastar da pedra bruta de Antonio Augusto Queiroz Batista
13.- A pedra bruta de Rubens José Nogueira
14.- Jesus esotérico de José Reis Chaves
15.- Deveres de um aprendiz maçom de Antonio Alberto Lourenço Lucas
16.- Carta mensal de fevereiro/2008 (Rotary Distrito 4730: Citações de Paul Harris e de Mahatma Ghandi), pela Governadora Ilma Brandalize Machado

O Rei Salomão e o Templo de Jerusalém

O Reino de Israel, segundo a Bíblia, foi a nação formada pelas doze Tribos de Israel, surgindo no século XI a.C sob a liderança de Saul, seu primeiro rei. Sucederam-no Isbonet, Davi e posteriormente Salomão filho de David e Bate-Seba, sendo então o quarto Rei de Israel.

Salomão segundo algumas cronologias, reinou de 1009 a.C a 922 a.C e reinou durante quarenta anos. O nome Salomão deriva em hebraico de Shalom, que significa “PAZ”, tem o significado de “Pacífico”. Foi adicionalmente chamado de Jedidias( em Árabe Sulayman) pelo profeta Natã, nome que significava em hebraico “Amado por Deus”.



Era um Rei muito jovem e muito sábio. Seu pai, o rei David, pouco antes de morrer convocou a Corte e anunciou seus príncipes: “ De todos os meus filhos( porque muitos me deu o Senhor), Ele escolheu Salomão para herdar meu trono”. Mas Adonias, filho primogênito de David proclamou-se pretendente ao Trono, ma s segundo os profetas era vontade Divina que o sucessor fosse Salomão. Seu direito foi assegurado mediante ação decidida de sua mão Bete-Seba, do Sumo Sacerdote Zadoque e do profeta Natã, com a aprovação do já idoso rei David.

O novo rei mal entrara na adolescência e com grande responsabilidade. Uma noite, em sonhos, uma Voz lhe falou “Pede o que desejares e serás atendido”. Então implorou “Dá- me um coração entendido e sábio para julgar e discernir entre o bem e o mal”. Ouviu a promessa do Altíssimo: “Já que não pediste grandezas, nem a morte de teus inimigos, terás um coração tão sábio que ante de ti, ninguém te igualará. E terás riqueza e glória como nenhum rei teve ou terá”.

Assim começou Salomão, imbuído da Centelha Divina, o seu reinado. Era um rei pacifico, não era um líder guerreiro como seu pai, pois não precisou tornou-se um grande governante e um juiz justo e imparcial, e logo conquistou a amizade e admiração dos outros reis. Cumulavam-no de presentes valiosos, que vinham acrescer as riquezas já abundantes no reino.

O rei Salomão não perdia suas horas livres em ociosidade. Aproveitava esse tempo para elevar o espírito às regiões espirituais, filosóficas e poéticas. Deixou para posteridade “Provérbios”, Cânticos dos Cânticos” e Eclesiastes”.

No primeiro, tinha como tema recorrente o temor a Deus. Tinha consciência de que a sabedoria perderia seu sentido se não fosse guiada, especialmente em termos éticos e morais, pelo temor a Deus somente adquirido através do estudo da Lei e da prática de atos de bondade.

De suas observações sobre o desenrolar dos tempos, concluiu que “nada é novo debaixo do sol” e, deplorando a frivolidade humana, declarou: Vaidades de vaidades, Tudo é vaidade”.

O rei David, desejava construir uma casa para Deus, onde a Arca da Aliança ficasse definitivamente guardada, ao invés de permanecer na tenda provisória (Tabernáculo ou Santuário para os hebreus, existente desde os dias de Moisés). Este desejo lhe foi negado por Deus, por ter derramado muito sangue em guerras. No entanto isto seria permitido a Salomão seu filho, pois a vontade Divina de que a Casa de Deus fosse edificada em paz, por um homem de paz.

O inicio da construção do Templo de Jerusalém (Templo de Salomão) foi no quarto ano de seu reinado, e segundo o plano arquitetônico transmitido por Davi, seu pai.
O trabalho prosseguiu por sete anos. Em troca de trigo, cevada, azeite e vinho, Hiram, rei de Tiro, forneceu madeira (cedro) e operários especializados em madeira e pedra. Também contratou “um homem que soubesse lavrar, cinzelar, trabalhar com ouro, prata e ferro”. E veio Hiram- Abif, em sua mão foi lhe entregue a construção do Templo.

Edificaram-no no Monte Moriá, em Jerusalém. As paredes externas eram erguidas com pedras polidas que se encaixavam umas nas outras, sem necessidade do uso de qualquer ferramenta. Dentro, as salas eram revestidas de cedro, com adorno de flores em relevo.

O templo tinha uma planta muito similar ao Tabernáculo que anteriormente servia de centro de adoração do Deus de Israel. A diferença residia nas dimensões internas do Santo e do Santo dos Santos ou Santíssimo (salas), sendo maiores que as do tabernáculo. O Santo media 17,8 m de comprimento e 8,9 m de largura e 13,4 m de altura. O Santo dos Santos era um cubo de 8,9 m de lado.

Após a construção do magnífico templo, a Arca da Aliança foi depositada no Santo dos Santos, a sala mais reservada do edifício. Foi pilhado várias vezes. Seria totalmente destruído por Nabucodonosor II rei da Babilônia, em 586 a.C após dois anos de cerco em Jerusalém. O templo de Salomão durou 4 séculos. Décadas mais tarde, em 516 a.C, após o regresso de mais de 40.000 judeus foi iniciada a construção no mesmo local do Segundo Templo, o qual foi destruído no ano 70 d.C, pelos romanos, no seguimento da Grande Revolta Judaica.

Alguns afirmam que o atual Muro das Lamentações era uma parte da estrutura do Templo de Salomão, mas estudos científicos com datação atribuem ao muro idade próxima à década anterior ao nascimento de Cristo, podendo tratar-se do Terceiro Templo também destruído pelos romanos, não há comprovação de sua existência, não há registros extrabiblícos de sua existência.

Contudo Salomão foi efetivamente um grande construtor. Sua época historicamente considerada e arqueologicamente comprovada, e foi de grande prosperidade, e que pelos resultados de escavações arqueológicas e documentos diversos é possível estabelecer conclusões quanto á arquitetura atribuída ao Templo de Salomão, no que concerne a ornamentação, disposição das dependências, técnica construtiva, comparando a tradição bíblica com restos arqueológicos de outros templos do oriente.

O Templo de Salomão ocupa posição de destaque na simbologia Maçônica, sendo uma dos mais marcantes fontes de símbolos, alegorias e lendas para o ensinamento dos princípios Maçônicos.

A existência do Templo de Salomão é um mito, mas o Maçom não desprezará o repositório inesgotável de ensinamentos velados por alegorias que nos proporciona a história (ou lenda) da construção do Templo. Não desprezará a tradição dos Maçons operários, só porque a arqueologia ainda não obteve provas concretas e irrefutáveis. Nem mesmo negará a tradição bíblica por insuficiência de escavações arqueológicas. Na obra de Jules Boucher Simbólica Maçônica: “Os Maçons não tentamos reconstruir o Templo de Salomão; é um símbolo, é o ideal jamais terminado, onde cada Maçom é uma pedra, preparada sem machado nem martelo no silêncio da meditação”.

Wellington Oliveira, M.M.
ARLS Igualdade, Oriente de São Paulo - Brasil

Ensinamento Maçônico sobre a Entrada no Templo



Quando dizemos que somos de uma loja de São João justa e perfeita elevamos nossa alma ao grande arquiteto pedindo proteção ao nosso coração para mantê-lo puro perante as imperfeições e evoluções constantes no mundo, onde reconhecemos nossa pequenez e nosso grau de aprendiz, que nada sabemos e talvez chegarmos a conclusão que nada saberemos. Simplesmente vivemos e adquirimos maturidade terrena e material, sempre buscando algo que está longe demais de ser alcançado, e quando chegamos vemos que o grande arquiteto tem outros planos, muitas vezes corrige esse curso, outras nos proporciona a oportunidade de evoluir espiritualmente e como pessoa.

Devemos focar nossos objetivos para trazermos paz ao mundo e tranqüilizar os corações amargurados e sofridos em uma vida de tantas provações. Amizade a todos os irmãos, entendendo-os e relevando as mais diversas situações provocadas por seu grau de evolução, mostrando-lhes o caminho das pedras para seu aprendizado individual, refletindo sobre nos mesmos e lembrando constantemente do nosso estágio de aprendiz, que ao contrário do que achamos é cada vez menor, o que perante o grande arquiteto aumenta nossa responsabilidade perante seus objetivos em um mundo em constante modificação.

Prosperar para oferecermos conforto a nossas famílias e criar condições de fazermos algo mais pelo próximo e formarmos exemplo de cidadania, contribuindo assim para um mundo melhor é uma frase conceitual, mas na essência vem acrescida de tantas variáveis que montaríamos uma biblioteca, pois com ela pode vir cobiça, vaidade, ignorância e tantas outras que nos fazem perder o sono à noite. Será que a prosperidade tem algo a ver com longevidade? Algo que está interno ao ser humano e não nos prazeres mundanos? Será que a realização momentânea nos traz um vazio, contemplando aquele sentimento de que sempre nos falta algo? Será que ao estendermos a mão a um necessitado não estaremos prosperando muito além de nossos limites? Fazer a diferença não seja ser uma pessoa digna e um bom pai de família?

Prosperar! Palavra forte e concreta que nos remete ao céu, uma grande diferença entre a migração de uma coluna à outra, de um estudo conceitual a uma ideologia mágica de satisfação plena.

É somente isso trazes consigo?

O venerável mestre, aquele cuja responsabilidade é creditada a conduta de seus aprendizes, vos saúda com respeito e admiração, agradecendo em nome de todo seu templo de origem o privilégio de abrigar com o mesmo carinho que esse filho foi recebido em sua vida o dos irmãos de convívio, fazendo-o ter uma visão diferente, mitigando sua curiosidade a outros fatos que contribuam para o seu aprendizado, razão pela qual de seu glorioso nome... venerável mestre.

Quando construímos templos à virtude remetemo-nos aos notáveis cavaleiros templários, figuras fortes e marcantes que tanto contribuíram com nosso desenvolvimento, demonstrando garra, robustez e perseverança, trabalhando com muita alegria, cavando masmorras ao vício. O mesmo vício de fazer o bem e nos fazer progredir e acreditar que existem muitas variáveis que não temos conhecimento, migrando-os ao simples - louvável - aprendendo que os detalhes fazem as diferenças, que é na minúcia que descobrimos a arte.

Nesse momento lembramos de Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, provável free maçom de sua época, estaria errado em tantos progressos nas áreas de engenharia, arquitetura, sociedade, música e artes cênicas de hoje? O nível de detalhe dos seus projetos nos levam a pensar que realmente temos muito a aprender, que realmente somos aprendizes. Muitas paixões foram vencidas, muitas vontades submetidas para realizar um dos trabalhos mais bonitos que a história protagoniza até hoje - a capela Sistina - que demonstra com suavidade e vigor toda energia despendida por um aprendiz que buscava algo, que tanto criou e contribuiu ao mundo e, talvez, tenha viajado as estrelas e ainda hoje continue buscando algo.

E o que ele queria? Um lugar que a história lhe reservou ou somente um lugar entre nós?
De tempos em tempos, o Céu nos envia alguém que não é apenas humano, mas também divino, de modo que através de seu espírito e da superioridade de sua inteligência, possamos atingir o Céu.
Giorgio Vasari
E seu venerável mestre lhe concedeu... e o mestre de cerimônia lhe acompanhou ao seu lugar de direito.



Maximiliano Schaefer, M.’.M.’.

ARLS Capela Aparecidense Nº 2923, Aparecida de Goiânia (Goiás) - Brasil

A Estrela de Cinco Pontas

Através dos séculos houve sempre a preferência por uma estrela de cinco pontas como figura dos astros de aparência menor do que a do sol e da lua. O planeta Vênus tem sido representado assim e é considerado uma estrela matinal e vespertina, ensejou lendas sem conta. Por outro lado, A Estrela de Cinco Pontas sempre foi, desde tempos remotos e até hoje, o distintivo de comandantes militares, e de generais.



Como Símbolo Maçônico, A Estrela Flamejante de origem Pitagórica, pelo menos quanto ao seu formato e significado, este muito mais antigo do que aqueles que lhe deram alquimia, a magia e o ocultismo, durante a idade média. O seu sentido mágico alquímico e cabalístico e o seu aspecto flamejante foram imaginados ou copiados por Cornélio Agrippa de Nettesheim (1486-1533), jurista, médico e teólogo, professor em diversas cidades européias. A magia, dizia ele, permite a comunicação com o superior para dominar o plano inferior. Para conquistá-la seria necessário morrer para o mundo (iniciação). Símbolo e distintivo dos Pitagóricos, A Estrela de Cinco Pontas ou Estrela Homonial é também denominada com impropriedade etimológica, Pentáculo (cinco cavidades), Penta Grama (cinco letras ou sinais gráficos, cinco princípios) ou Pentalfa. Importa saber que os pitagóricos a usam para representar a sabedoria (sophia) e o conhecimento (gnose) e provavelmente empregavam no interior do pentáculo a letra gama, de gnosis.

A Estrela Flamejante era símbolo desconhecido pelos pedreiros livres medievais. Seu aparecimento na Maçonaria, a partir de 1737, não encontrou guarida em todos os Ritos, pois o certo é que os construtores medievais conheciam a figura estelar apenas como desenho geométrico e não com interpretações ocultas que se introduziram na Maçonaria especulativa. A Estrela Flamejante corresponde ao Pentagramaton ou Tríplice Triângulo cruzado dos pitagóricos. Distingue-se do Delta ou Triângulo do Oriente, embora, entre os antigos egípcios representasse também Horus que em lugar do pai, Osíris passou a governar as estações do ano e o movimento.

O verdadeiro sentido da Estrela Flamejante é Homonial, eis que o símbolo designa o homem espiritual, o indivíduo dotado de alma, ou de fator de movimento e trabalho. Ou seja, o indivíduo como espírito ou fagulha interna que lhe concedeu o G.·.A.·.D.·.U.·. . A ponta superior da Estrela é a cabeça humana, a mente. As demais pontas são os braços e as pe rnas. Na Maçonaria essa idéia serve para lembrar ao Maçom que o homem deve criar e trabalhar, isto é, inventar, planejar, executar e realizar, com sabedoria e conhecimento. Pode ocorrer que o ser humano falhe nos seus desígnios. O Maçom também pode falhar como ser humano, mas seu dever é imitar, dentro de seus ínfimos poderes o G.·. A.·. D.·. U.·., o ser dos seres. Aí está O principal segredo do Grau de C... . Outra interpretação é a que se refere a 3+2=5, soma em que três é a divindade cuja fagulha é encarnada e dois é o material, o ser que se reproduz por dois sexos opostos e não consegue perpetuar-se de outro modo.

As cinco pontas da Estrela ainda lembram os cinco sentidos que estabelecem a comunicação da alma com o mundo material. Tato, audição, visão, olfato e paladar, dos quais para os Maçons três servem a comunicação fraternal, pois é pelo tato que se conhecem os toques Pela audição se percebem as palavras , e pela visão se notam os sinais. Mas não se pode esquecer o paladar, pelo qual se conhecem as bebidas amargas e doces, bem como o sal, o pão e o vinho. Finalmente pelo olfato se percebem as fragrâncias das flores e os aromas do altar de perfumes. A letra "G", interior com o significado de gnose ou conhecimento lembra a quinta essência, quanto ao transcendental. Quanto ao Homonial, lembra ao Maçom o dever de conhecer-se a si mesmo. No Grau de Companheiro recomenda-se ao Maçom o dever de analisar as próprias faculdades e bem empregar os poderes pessoais em benefício da humanidade.

POSIÇÃO DA ESTRELA FLAMEJANTE NO TEMPLO
Os Rituais do mundo e os diversos Ritos Maçônicos não se entendem também quanto à colocação da Estrela Flamejante no alto do recinto do Templo. Uns a colocam no oriente a frente do trono, outros a configuram no interior do D.·., o que parece mais sugestivo, principalmente quando o Obreiro na elevação de Grau é chamado a contemplar o Triângulo Radiante. Outros, entendendo que ela é de brilho intermediário, isto é, de luminosidade simbolicamente situada entre a luz ativa do sol e a luz próxima ou reflexa da lua, mandam situá-la no meio do teto do Templo, dependurada, ou pelo menos no meio-dia, onde à maneira inglesa está o 2º Vigilante. Outros a consideram uma Estrela do Ocidente. Lojas do Rito Moderno as têm colocado no ocidente ao lado do 2° Vig.·. (norte). Entende-se que a melhor forma é se colocar a Estrela Homonial no meio do teto do Templo, ou de maneira que o Iniciado possa contemplar o Símbolo quando é chamado a fazê-lo.

SIGNIFICADOS MAÇÔNICOS DA LETRA G NO INTERIOR DO PENTAGRAMA
Ficou demonstrado que a melhor significação do G central do pentagrama é gnose=conhecimento. O caráter Homonial da Estrela Flamejante é indiscutível, a luz das fontes pitagóricas e das referências gregas e romanas. Ninguém negaria ao Símbolo o seu sentido mágico, eis que Pitágoras se dedicava à magia. No pentagrama a letra G quer dizer principalmente gnose, porém para satisfazer gregos e troianos tem que se acrescentar os significados, GERAÇÃO, GÊNIO, GEOMETRIA e GRAVITAÇÃO, e também GLÓRIA PARA DEUS, GRANDEZA PARA O VENERÁVEL DA LOJA, ou para A LOJA, e tem sido registrado em muitos Rituais Maçônicos na tentativa de se encontrar ligação entre estes hipotéticos significados da letra "G". Diz-se que GERAÇÃO estaria ligada ao princípio (gênesis da Bíblia) ou a Arquem, dos gregos. Gênio seria o correspondente a "DJINN" dos árabes e a "GINES" dos persas, que no ocultismo tange aos chamados "ELEMENTAIS" ou "SEMI-INTELIGENTES ESPÍRITOS DA NATUREZA" e em outras interpretações quer dizer o espírito criador ou inventor, ou a chama realizadora. GEOMETRIA, ciência da medida das extensões, que lembra as regras do grande geômetra para realizar a Arquitetura do Universo. Na sabedoria ela provocou os diálogos sobre ORDEM, EQUlLÍBRIO e HARMONIA. A GRAVITAÇAO lembra Newton e sua lei: A matéria atrai a matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias. ARQUEU, O PRINCÍPIO, O FOGO REALIZADOR A palavra Arqueu, que deriva do grego que queria dizer, princípio, principal, primeiro, príncipe, reino, domínio.

Para os gregos, a palavra tinha o sentido de poder formador da natureza. Seria a essência vital que exprime as propriedades e as características das coisas. Por comparação, corresponderia ao sopro divino que deu vida a Adão na Bíblia. Ensinam certas instruções maçônicas o motivo simbólico das chamas que envolvem a Estrela Pentacular, relembrando Arqueu, o Fogo Realizador, ou ensinando que a letra G significa o gênio ou a BUSCA SAGRADA que anima o C.·. M.·. . à realização.

Tem-se afirmado que a Estrela Flamejante traduz a luz interna do C.·. M:. ou que representa o próprio homem Maçom dotado da luz divina que lhe foi transmitida. A estrela de cinco pontas é então a força que impulsiona o companheiro em direção das suas metas e da sentido as suas realizações, o numero cinco a qual a estrela faz alusão se funde na alma do companheiro que uma vez elevado a um patamar mais alto pode vislumbrar as luzes desta estrela e pode-se então guiar por esta luz pra que a sua caminhada que já é longe das trevas do mundo profano possa se refinar e dar sentido a sua obra interior, absorvendo a luz desta estrela que representa o corpo humano e utilizando a quintessencia o companheiro desperta para as luzes do saber e da compreensão da humanidade e do sentido oculto do saber e do realizar.

Que o GADU ilumine as nossas mentes para que posemos sempre caminhar longe das trevas e em direção a sua Luz. .

Flávio Dellazzana, C.'. M.'.
A.'.R.'.L.'.S.'. PEDRA CINTILANTE, 60
G.'.O.'.S.'.C.'./C.'.O.'.M.'.A.'.B.'.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Muito Interessante!

A imagem de cima é após a explosão da bomba atômica e a imagem de baixo é após o tsunami.
De que material são feitos os "pórticos" das fotos ?
Colaboração:
Ir.'. Mario Dias de Mesquita.




Qual seria explicação deste Pórtico não sofrer nenhum abalo?

domingo, 19 de junho de 2011

Eu sou a Maçonaria


Nasci na antigüidade, nos idos tempos quando o homem sonhava com Deus. Eu fui posta à prova através dos tempos e a verdade prevaleceu.
As encruzilhadas do mundo têm as marcas da minha caminhada e as catedrais de todas as nações marcam a habilidade de minhas mãos.

Eu luto pela beleza e pela simetria. Em meu coração habitam a sabedoria, a força e a coragem daqueles que buscam. Sobre meu altar está o Livro Sagrado das Escrituras e minhas preces são para o Único e Onipotente Deus.

Meus filhos trabalham e oram juntos, sem hierarquia ou discórdia, nos mercados públicos e nas câmaras interiores.

Por sinais e símbolos eu ensino lições de vida e de morte, do relacionamento entre Deus e o homem e entre os homens.

Meus braços estão abertos para receber aqueles que atingiram sua maioridade, que sejam de bons costumes, e que me buscam por sua livre vontade.

Eu os aceitarei e os ensinarei a utilizar minhas ferramentas na construção dos homens e, por conseguinte, mostrarei a direção da sua própria busca da perfeição, tão desejada e tão difícil de atingir.

Eu ergo os caídos e dou abrigo aos doentes.

Eu me preocupo com o clamor dos órfãos, com as lágrimas das viúvas, com a dor dos velhos e destituídos.

Não sou uma igreja, nem uma associação e nem uma escola, contudo meus filhos carregam sua total parcela de responsabilidade para com Deus, sua pátria, seus vizinhos e consigo mesmos.

Eles são homens livres, persistentes na sua liberdade e alertas ao perigo que os espreita.

Por último, eu os comprometo a que cada um inicie sua jornada além do vale para a glória da vida eterna.
Eu reflito sobre a areia da ampulheta e penso quão pequena é uma vida só, no eterno universo.

Sempre ensinei sobre a imortalidade e mesmo quando eu elevo os homens da escuridão à luz, Eu sou um sentido para a vida.
Eu sou a Maçonaria
-Ray V. Denslow-
Tradução livre de Hernán Vilar – ARLS Mestre Pescador 154

A Missão da Maçonaria no Mundo de Hoje

A Maçonaria desde a sua existência, passa por diversos processos de transformações e provas, mas, resistirá heroicamente a todos os golpes de seus próprios filhos e sairá fortalecida sempre, pois tem uma missão a cumprir, e a cumprirá a despeito de todos quantos forem aqueles que se voltem contra ela. Sua força está em saber esperar e em saber resistir, sobretudo em ter a Razão contra tudo que seja escravidão, fanatismo, ignorância e aviltamento, pois o G\A\D\U\ exercerá Sua Força, eternamente derrotando estes inimigos.

          No caminho estreito do mundo há uma árvore de mau agouro e frondosa: a Crueldade que, produziu durante a história, ditadores, traidores, corruptos e sem princípios que abusam da confiança do povo, em todas as épocas e de todos os tamanhos. Estes elementos eram e são cheios de vaidades e ambições, duros de corações, carentes de escrúpulos, inimigos da liberdade de ação e expressão, e inimigos principalmente da Maçonaria que, tem a Verdade e a Justiça como pilares básicos de seu Templo Imortal.

          A Maçonaria tem como grande missão redimir, elevar, impulsionar e iluminar a Humanidade, dando a entender que não estamos isolados no mundo.

          O trânsito que a Humanidade se conduz, pode ser considerado como a raiz de uma árvore que um dia luzirá como copa frondosa, sustentada por tronco rijo e idoso, do qual somos a primeira célula.

          Pode-se afirmar que o progresso da Maçonaria é o resultado de uma cadeia de homens decididos e virtuosos, e mesmo assim, os passos que são dados na vereda do progresso, são tão curtos como minguado é o tempo que leva a Família Humana na face da Terra, comparado com os astros de sistema solar.

          Dizer sim como o Sol que ilumina os bons e os maus, dá calor a todos sem exceção ou distinção a todos os seres da Terra, assim deve a Maçonaria estender seu amor e sua benevolência a todas quantos a rodeiam, sem distinção, sem discriminação e muito menos sem rancores, porque tanto como o Amor é fértil, o Ódio é estéril e destrói o ser humano.

          É preciso que a Maçonaria dê exemplos à sociedade, para que não se reconheçam mais títulos e nem vantagens e que não desvirtue o estreito acatamento à Moral e ao exercício da Virtude. É preciso sim que se reconheça o quanto é amoroso, honrado e excessivamente virtuoso, pois a Virtude é para a Maçonaria a força de fazer o bem em seu amplo sentido, é o cumprimento de nossos deveres para com a sociedade e para com a nossa família, sem interesse pessoal. Em resumo, a Virtude não retrocede, nem ante ao sacrifício e nem mesmo ante a morte, quando se trata do cumprimento do dever.



       A Maçonaria pode ser considerada neste mundo como a mãe da sabedoria humana, e esta cumpre árdua missão, incansavelmente, com ousadia, perseverança e valor, sendo sua doutrina principal o Amor, revelando ao homem os ensinamentos principais como o de cumprir sua missão, custe o que custar.

          A Maçonaria pode, com certeza, afirmar que não há ser no mundo que não melhore em algo sua alma, enquanto ama outro ser, ainda quando se trate de um processo de um pequenino e insignificante amor. E os que não deixam de amar seguem amando, senão porque é a mais divina e ao mesmo tempo a mais profunda virtude humana.

          O caminho para o próprio convencimento do homem que queira seguir, não importa para a Maçonaria, para isso ela o deixa com sua liberdade de consciência e por isso não toma em defesa nenhuma religião, e convida seus obreiros ao estudo e à meditação sobre o único livro que o homem tem estudado profundamente, e de onde tem tirado todo o seu conhecimento. Esse livro é o que chamamos de Livro da Lei.

          No fundo da humilde vida do justo, só são inalteráveis e imóveis a Justiça, a Confiança, a Benevolência e a Generosidade. A nossa missão como maçons neste mundo é espalhar os ensinamentos do Amor. Na realidade ela não tem donos, não é um negócio, não é uma profissão, muito menos privilegia monetariamente ou mesmo materialmente aos que na Ordem adentram. O que nos enaltece e nos privilegia são os nossos ensinamentos, tendo como princípio base o amor que nos abre os olhos para muitas verdades pacíficas e doces, e nos dá a oportunidade de conhecer, em um objeto único, o que não havíamos tido nem idéia, concebido em mil objetos diversos. E com isso se alarga nosso horizonte e mais se estende o alcance de nossos corações entre os Irmãos.

          Não chegaremos a ser verdadeiramente justos, senão no dia em que deveremos ser humildes ao buscar em nós mesmos o modelo da Justiça que, com certeza, se esconde no fundo de cada um de nós.

          A Maçonaria é para poucos, mas, estes poucos muito se esforçam em fazer o bem pela Humanidade.

          Sejamos então muitos em prol desse mesmo bem.    


O Pensamento Zoroastriano

Texto fornecido por: Onaldo Alves Pereira

Pesquisa Ir.: Jaime Balbino de Oliveira
Conta a lenda que Zoroastro ao nascer ao invés de chorar sorriu. Essa história traduz muito bem a visão positiva e alegre que ele tem do mundo e de seu destino.
O antigo sistema de pensamento de Zoroastro, com todos os seus desdobramentos filosóficos, políticos e religiosos, continua atual em seus desafios e surpreendente abertura para a renovação.
A busca de Zoroastro começou como a de muitos dos profetas de então e de agora.
Chocado com as contradições da sociedade de sua época e decepcionado com as respostas dadas pelo meio pensantes ele decide fazer a sua própria descoberta. Difere, contudo das dos outros, a sua busca, por não ter como desencadeante o problema da morte. Mas o do estado de convivência social injusto de seu tempo e contexto. É interessante notar, desde logo, que ele começou fazendo perguntas e terminou descobrindo algo que lhe ajudou a fazer mais perguntas ainda, sem necessariamente acompanha-las com respostas.
Zoroastro descobriu o que queria, não como uma revelação e nem como coisa privativa sua. Ele encontra o óbvio, o que está escrito nas páginas da vida e pode ser lido por qualquer um. Ele é uma pessoa comum que no esforço de seu intelecto e na sensibilidade de seu espírito consegue ver que este é um mundo bom, criado por um Deus bom e destinado a alegria radiante. Constatando isso, ele desenvolve uma resposta que tem tanto uma elaboração filosófica como conseqüências práticas para a vida.
A grande questão, colocada para ser resolvida por todos os sistemas filosóficos e religiosos, o bem e o mal, para Zoroastro se resolve dentro da mente humana. O bom pensamento ou boa mente cria e organiza o mundo e a sociedade, o meu pensamento ou má mente faz o contrário. Cabe ao ser humano fazer uma escolha e ele tem o poder e a capacidade de fazê-la.
O Cosmo inteiro está a seu favor quando escolhe a boa mente enquanto que a má mente isola e portanto, angústia aquele que por ela opta. Essa escolha é feita no dia-a-dia da pessoa, em cada ação. Ninguém pode fazer uma opção definitiva, essa é um mecanismo dinâmico e progressivo.
Essa escolha não desencadeia a salvação ou perdição de alguém, ela é parte de um processo de aprendizagem contínuo, aberto e reformável de acordo com o contexto. Com o progresso de cada indivíduo progride o mundo, é acelerada a criação do universo. O quadro só será completado quando todos tiverem chegado lá. É como numa orquestra, o concerto só é possível após cada instrumento estar afinado. Aliás, essa é a organização interna de todas as coisas em suas especificidades. A condição da parte garante o funcionamento do todo.
Essa descoberta de Zoroastro levou a conclusões inusitadas e revolucionárias. Acenou com uma nova organização social e uma nova religião.
A religião baseada no medo do mistério e no apaziguamento de suas forças através da magia e da expiação não fazia mais sentido. Ele descobrira uma religião da alegria participativa. Admirada diante do fato de ser feita parceira de Deus em seu projeto de mundo, através de um processo de livre escolha e colaboração, a pessoa responde com o cultivo de Boa Mente, de Boas Palavras e de Boas Ações. Essa é a ética da responsabilidade.
Esse esforço, que inicialmente é individual e continuará a sê-lo, recebe, contudo o poder transformador de Asha.
Asha é o princípio organizador de Deus o qual traz em si todas as qualidades, justiça, retidão, cooperação, verdade, bondade etc. Asha age no mundo, em todos os setores e especialmente, nas pessoas que lhe abrem a mente. Ela estimula, provoca, incentiva e capacita à escolha e prática do bem. Asha poderia ser comparada à tomada que nos conecta à energia vital e criativa de Deus.
As pessoas que vão descobrindo a capacidade que têm de fazer essa opção vão se unindo na descoberta natural de que são parte de um todo magnífico, que se forma em parceira com Deus.
Nesse sistema não tem lugar de destaque a fé ou a crença. Não é necessário crer, é preciso saber e agir de acordo com o que se sabe. Temos aqui então uma religião do conhecimento.
A visão de mundo de Zoroastro não coloca o ser humano como o centro, o motivo de ser do planeta. Antes, uma das tarefas dadas pelo pensamento de Zoroastro é que o ser humano ache o seu lugar no mundo de forma harmoniosa, de modo a não desequilibrar o meio.
Reverenciar e proteger a terra, a água, o ar e o fogo além dos outros seres viventes, é uma preocupação constante que aparece no pensamento gático.
Não há diferença de raças ou de gênero em Zoroastro. O Deus descoberto por Zoroastro não é tribal e não tem um povo escolhido dentre os outros povos. Tanto o homem como a mulher pode tomar a liderança, mesmo nos ritos religiosos.
Talvez o que haja de melhor em Zoroastro seja a abertura, quase desafio para se seguir adiante perguntando, descobrindo, mudando e tudo isso, num movimento dinâmico de progresso. Nada está fechado numa ortodoxia oficial. Em seus cânticos ele faz 93 perguntas sem respostas. Está ausente ali a arrogância de dono de uma verdade estática e acabada.
A doutrina de Zoroastro ensina a emancipação e a autonomia do indivíduo. Só a partir disso se torna possível a descoberta do outro como pessoa e conseqüentemente a criação de comunidade. Não há lugar nessa visão para qualquer anulação do ego. Antes, o ego é reafirmado e colocado como base do encontro com o outro. Se sadio e bem amado o ego forte é poderoso na capacidade de doação e desprendimento.
A sociedade é para ser organizada dentro desses princípios de livre escolha, boa mente e busca do bem de todos os seres.
Os líderes têm que ser escolhidos por serem justos e equilibrados.
Zoroastro, apesar das dificuldades que enfrenta em seu tempo e que, também desencadeiam sua busca, não vê o mundo como arruinado, do qual urge fugir e se possível salvar alguns. Antes, o mundo é uma obra em fase de acabamento ao qual somos convidados a unir criativamente nas nossas vidas. Essa visão de mundo provoca uma ética diferente da que dominou o mundo ocidental, que recorre à punição/recompensa como veículo principal de estímulo ou contenção. A prática profunda desse pensamento na sociedade não teria criado um sistema judiciário com prisões.
O ser humano não está contaminado pelo pecado, antes, pelo contrário, capacitado à escolher a boa mente e a construir um mundo diferente. Uma leitura de Zoroastro com essa abundância de negações não lhe faz justiça. O contexto judaico cristão onde estamos inseridos, porém nos obriga a usar esses termos, pelo menos num primeiro momento.
Resgatado e atualizado esse velho pensamento pode fornecer material para a ética que precisamos nesse nosso tempo. Ele é aberto, estimula o conhecimento e a pesquisa, é ecológico, inclusivo e pode ser também fonte de uma profunda e rica espiritualidade.